2. DE INCREDULO A LÍDER DA IGREJA PRIMITIVA
Reconhecido por sua santidade e fidelidade à Lei de Moisés, Tiago recebeu o título de
"o justo". Segundo Hegesipo, um cronista cristão judeu do segundo século de nossa
era, informa-nos que Tiago viveu como um rigoroso nazireu - indivíduo que fazia um
voto especial a Deus por um período de devoção extraordinária a Ele (Nm 6.2) - ele
também foi identificado pelos judeus como alguém dotado de espírito sacerdotal.
Acredita-se que Tiago usava o éfode de linho e a lâmina de ouro puro sobre a testa
(Êx 28.6,36) e que, portanto, tinha acesso ao Lugar Santo no templo de Jerusalém.
2.1. Transformação pela Ressurreição
A conversão de Tiago foi impulsionada pela aparição do Cristo ressurreto (1 Co
15.3-7). Até então, ele se mantinha cético quanto à missão de seu irmão (Jo 7.5).
Entretanto, ad compreender que a aquele acontecimento singular cumpria antigas
profecias messiânicas (Is 26.19; Sl 16.10), tornou-se um dos mais fervorosos
defensores da fé cristã.
Embora os detalhes sobre essa transformação sejam limitados nos textos canônicos,
a importância desse evento é destacada pela inclusão de Tiago entre as principais
lideranças da Igreja primitiva (At 1.14; Gl 2.9).
2.2. Líder da igreja de Jerusalém
Após sua conversão, Tiago rapidamente ascendeu ao papel de líder máximo da igreja
de Jerusalém, sendo referido como coluna pelos apóstolos (Gl 2.9). Embora não
fizesse parte dos Doze, sua autoridade era reconhecida, como demonstrado durante o
primeiro Concílio (At 15.13-21). Paulo, inclusive, ao escrever aos gálatas (1.19),
referiu-se a ele como apóstolo (gr. apostolōn = "enviado").
2.2.1. O primeiro concílio da Igreja
Tiago presidiu o concílio de Jerusalém, que definiu os requisitos para a inclusão dos
gentios na comunidade cristã. Ele propôs um acordo baseado nas Escrituras (Am
9.11; At 15.16), afirmando que os não judeus não precisavam se submeter à
circuncisão, mas deviam evitar práticas imorais e alimentos sacrificados a ídolos (At
15.19,20). Seu discurso combinava prudência, conhecimento bíblico e habilidade
diplomática.
Eusébio de Cesareia, um dos pais da história da Igreja, chama Tiago de bispo dos
apóstolos, destacando sua liderança sem precedentes. A presidência de Tiago no
concílio em Jerusalém refuta qualquer ideia de Pedro como primeiro Papa. Se tal
conceito existisse naquela época, Eusébio certamente o teria registrado.
2.3. O martírio de Tiago
Segundo tradições antigas, Tiago foi martirizado em 62 d.C., ou possivelmente entre
69-70 d.C. Os líderes religiosos o pressionaram a negar a Cristo, mas ele reafirmou
publicamente sua fé. Como consequência, foi lançado do pináculo do Templo e
apedrejado até a morte (Ap 2.10). Assim, o irmão que antes duvidara do Redentor
entregou sua vida como mártir, tornando-se um exemplo eterno de fé e devoção.
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Estudiosos veem pelo menos doze paralelismos entre o Sermão da Montanha (Mt 5-7)
e os escritos de Tiago (Tg 1.2,4 6,9,10,12,22; 3.5-10,17; 4.11-15; 5.1-8). A epístola
também mostra familiaridade com a literatura sapiencial judaica, especialmente o
estilo direto e prático encontrado em Provérbios e Eclesiastes (Tg 1.5,19; 3.13;
4.14; 5.1,2), com conselhos sobre ética, conduta moral e justiça social.
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3. A EPÍSTOLA DE TIAGO: FÉ QUE MOVE, TRANSFORMA E IMPACTA VIDAS
A epístola de Tiago inicia identificando seu autor (Tg 1.1). Embora não especifique
qual Tiago a escreveu, a tradição cristã atribui sua autoria ao irmão de Jesus,
considerando sua liderança na Igreja primitiva (At 15.13; Gl 2.9) e o conteúdo prático e
ético que permeia a mensagem. A carta enfatiza uma fé autêntica, evidenciada por
atitudes corretas e uma conduta exemplar.
3.1. Fé transformadora: obras como evidência
O ponto central da epístola é a relação entre fé e obras (T 2.14-26). Para Tiago, a
essência da fé cristã está na prática de religião pura e imaculada, definida como
cuidar dos necessitados e viver de modo irrepreensível (Tg 1.27).
Embora não negue a justificação pela fé (Rm 3.28), Tiago destaca que essa confiança
genuína se reflete em atitudes (M 7.16-20; 25.31-46). Ele rejeita uma crença
puramente teórica lembrando que até os demônios creem e tremem (Tg 2.19) Para
ele, acreditar sem agir é inútil (Tg 2.17,26). Em outras palavras, para ele, a verdadeira
espiritualidade não é passiva mas se revela como uma força transformadora. Como
apropriadamente sintetizou Dietrich Bonhoeffer: "Somente aquele que crê, obedece; e
somente aquele que obedece, crê.".
3.2. Religião verdadeira: vida pura e irrepreensível
Os destinatários da epístola são cristãos, como demonstra do pela repetida expressão
"meus irmãos" (Tg 2.1,14). Tiago enfatiza a regeneração por meio da mensagem
divina, afirmando que o Pai nos gerou pela palavra da verdade (1.18) que os crentes
devem acolher com mansidão o ensino capaz de salvar suas almas (1.21). Essa
instrução deve ser praticada de forma ativa e constante, evidenciada por ações justas
e corretas (1.22-25). Além disso, o irmão do Senhor exorta a paciência diante das
provações e à esperança em Sua volta (5.7,8; conf. Mt 24.42-44).
4. LIÇÕES DA VIDA DE TIAGO PARA A JORNADA DE FÉ
A vida e o testemunho de Tiago nos inspiram a cultiva uma fé prática, uma
espiritualidade autêntica e uma liderança comprometida com o bem comum.
4.1. Coragem para superar a incredulidade
Tiago, o justo, inicialmente não acreditava na missão redentora de seu irmão (Jo 7.5).
Sua descrença pode ter sido influenciada pela proximidade familiar, que dificultava
enxergar o Nazareno além de sua condição humana.
Como judeu fiel à Lei Mosaica, ele talvez esperasse um libertador político, como
muitos em sua época (Mt 5.17). Além disso, a pressão social e as críticas públicas ao
Seu ministério podem ter intensificado sua resistência (Mc 3.21). Porém tudo mudou
após seu encontro com o Cristo ressuscitado (1 Co 15.7), que o transformou em um
líder fervoroso da igreja de Jerusalém (At 15.13-21).
Sua trajetória nos ensina que, mesmo em meio à dúvida e às concepções erradas, um
encontro genuíno com Jesus pode renovar vidas e gerar fé verdadeira e ativa.
4.2. Humildade para vencer a resistência interior
Crescer ao lado do Filho de Deus, convivendo com Sua perfeição moral e Seu senso
de propósito, pode ter gerado sentimentos complexos em Tiago. No contexto familiar
judeu, as posições ocupadas por seus membros eram altamente valorizadas, o que
pode ter intensificado um sentimento de inadequação e rivalidade.
Reconhecer um filho de Maria como o Prometido das Nações significava, para Tiago,
admitir que seu irmão era mais que um líder espiritual: Ele era o Salvador da
humanidade. Essa aceitação exigiu não apenas uma profunda transformação interna,
mas também uma superação psicológica de possíveis sentimentos de inferioridade ou
inveja.
A humildade de Tiago em abandonar qualquer resistência emocional para seguir Jesus ensina que aceitar a verdade muitas vezes implica vencer o orgulho e os
conflitos interiores, abrindo caminho para uma vida de propósito e serviço genuíno.
CONCLUSÃO
Tiago, que cresceu ao lado de Jesus, acreditava conhecê-lo plenamente. No entanto,
uma experiência pessoal e sobrenatural com o Cristo ressurreto transformou sua
compreensão, levando-o a reconhecê-lo como o Messias prometido (1 Co 15.7). Com
o tempo, seu entendimento sobre a missão do Salvador se intensificou, especialmente
quanto à união de judeus e gentios na fé (At 15.13,19,20), ainda que Paulo tenha
explicado essa verdade de forma mais clara (Ef 2.11-22).
A vida de Tiago nos ensina que uma experiência genuína com Deus excede ao
conhecimento teórico (Jó 42.5) e nos convida a buscar uma relação mais íntima com
Ele todos os dias.
ATIVIDADE PARA FIXAÇÃO
1. Quantos e quais são os Tiagos citados no Novo Testamento?
R.: Quatro, a saber: o filho de Zebedeu (Mt 4.21; 17.1); o filho de Alfeu (Mt 10.3); o pai
de Judas, não o Iscariotes (Lc 6.13-16), e o irmão de Jesus (Mt 13.55).
2. Que grande questão teológica, na epístola de Tiago, parece colidir com os
ensinamentos paulinos relacionados à graça (Rm 3.28)?
R.: O binômio fé e obras (Tg 2.14-26).
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