2.2.1. Os atributos da verdadeira sabedoria
A sabedoria celestial, por sua origem divina, possui características que a distinguem completamente da terrena. Tiago descreve suas qualidades (Tg 3.17). Ela é:
- pura — está livre de corrupção ou amalgamento, reflete a santidade de Deus;
- pacífica — promove a paz e a reconciliação, em contraste com o espírito de perturbação (Tg 3.16; cf. Mt 5.9);
- moderada — é gentil, equilibrada e indulgente (Gl 5.22);
- tratável — demonstra disposição para ouvir e ceder quando necessário, sem arrogância;
- cheia de misericórdia — mostra compaixão e sensibilidade às necessidades dos outros, rejeitando o egoísmo;
- cheia de bons frutos — produz obras justas e evidências práticas de fé;
- sem parcialidade — atua de forma íntegra, sem julgamento dividido ou mente dúplice (Tg 1.8);
- sem hipocrisia — é sincera e verdadeira, sem máscaras ou fingimento.
Tiago ressalta que a verdadeira sabedoria transforma o caráter e as atitudes, refletindo a natureza de Deus e edificando a comunidade de fé.
3. A RESISTÊNCIA ÀS PAIXÕES CARNAIS
Tiago denuncia os conflitos internos na comunidade cristã, identificando a carnalidade como a principal origem dessas disputas (Tg 4.1). Ele estabelece um contraste marcante entre os promotores da paz, que produzem frutos de justiça, e aqueles dominados por desejos egoístas, cujos corações estão cheios de contenda (Tg 3.18; 4.1).
3.1. A guerra interior: o conflito entre carne e espírito
Tiago descreve diferentes tipos de conflitos que prejudicam a unidade do Corpo de Cristo. Observe:
- guerra interior — ocorre no íntimo de cada indivíduo, reflete a constante luta entre os desejos da carne e a vontade do espírito (Tg 4.1; cf. Gl 5.17; Rm 7.23);
- guerras interpessoais — quando não controlada, a guerra interior transborda para o convívio social, gerando guerras interpessoais motivadas por julgamentos precipitados e divisões, como as que Tiago aponta entre ricos e pobres (Tg 1.9-11; 2.1-9);
- guerra com Deus — aquele que se alia ao mundo se coloca contra Deus, tornando-se Seu inimigo (Tg 4.4). Diante dessa realidade, Tiago alerta que os conflitos internos não resolvidos alimentam discórdias entre irmãos e levam, por fim, à oposição ao próprio Deus. Por isso, a submissão ao Senhor e a busca por uma vida em sintonia com os princípios do Reino são essenciais para vencer essa batalha.
3.2. Pedidos egoístas e motivações distorcidas
Tiago alerta contra pedidos egoístas que revelam motivações distorcidas. Ele afirma em sua epístola: Pedis e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites (Tg 4.3). O autor destaca que Deus não concede bênçãos que afastam Seus filhos de Sua presença.
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A teologia do Novo Testamento ensina o desapego aos bens materiais, ressaltando que o problema não está na posse de riquezas, mas na finalidade de seu uso. Muitos, apesar de demonstrarem fidelidade inicial, acabam se distanciando da Igreja ao alcançar maior prosperidade, evidenciando prioridades mal direcionadas.
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3.3. O cristão entre dois mundos
Ainda no quarto capítulo de sua epístola, versículos 4 a 7, Tiago usa palavras duras para repreender aqueles que dividem seus corações entre Deus e o mundo. Ele declara que não é possível amar simultaneamente dois domínios opostos (Tg 4.4).
Tiago demonstra, nesses versos, a impossibilidade de agradar ao Senhor enquanto se mantém amizade com o sistema mundano, que está sob a influência do deus deste século (cf. 2 Co 4.4). Enquanto a mentalidade terrena incentiva a soberba, o Reino celestial valoriza a humildade (Tg 4.6).
4. O CAMINHO PARA RESTAURAR A COMUNHÃO COM DEUS
De forma abrupta, Tiago altera o tom de sua mensagem, passando da exortação para um apelo, de maneira semelhante ao profeta Isaías (Is 1.16-18). Nos versículos seguintes, ele utiliza uma série de verbos carregados de significado espiritual: sujeitai-vos, resisti, chegai-vos, limpai, purificai, senti, lamentai, chorai, convertei-vos e humilhai-vos (Tg 4.7-10). Esses imperativos chamam à ação prática, indicando um caminho de arrependimento, transformação e submissão à vontade de Deus.
4.1. Sujeição
A sujeição é um princípio essencial na vida cristã, com implicações tanto no âmbito humano quanto no espiritual (Tg 4.7). No plano terreno, ela pressupõe uma relação entre autoridade e submissão, como exemplificado em diversas esferas: o homem deve sujeitar a terra (Gn 1.28); a esposa deve sujeitar-se ao marido (Ef 5.21); à Igreja, a Cristo (Ef 5.24); o rebanho, ao pastor (Hb 13.7); os cidadãos, às autoridades (1 Pe 2.13); e os servos, aos seus senhores (1 Pe 2.18). Esse conceito, quando compreendido e aplicado corretamente, reflete um alinhamento com a ordem divina.
4.2. Aproximação
Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós. Limpai as mãos, pecadores; e, vós de duplo ânimo, purificai o coração (Tg 4.8). O verbo purificar, nesse verso, significa “tornar casto”. Esta ideia serve para se contrapor ao adultério espiritual mencionado em Tiago 4.4.
A busca por Deus goza do princípio da reciprocidade: quando nos voltamos para Ele, Ele se volta para nós, o que implica também o oposto: quando nos afastamos de Sua presença, Ele também se distancia. Esse vínculo requer qualificações pessoais à altura da natureza divina. Ele é santo e requer santidade de quem dele se aproxima.
4.3. Arrependimento e quebrantamento
O apelo de Tiago envolve um profundo ato de humilhação (Tg 4.10), que inclui o reconhecimento de pecados e verdadeira contrição. Ele convoca os cristãos a lamentarem suas falhas, trocando a alegria superficial por lágrimas de arrependimento (Tg 4.9). Esse quebrantamento é um passo indispensável para o avivamento, pois nem sempre é tempo de celebração diante de Deus. Embora a alegria do Senhor seja a força do cristão (Ne 8.10), há momentos em que o lamento e a humildade são necessários para restauração e comunhão plena com Ele.
CONCLUSÃO
Tiago é frequentemente considerado o livro da sabedoria do Novo Testamento, estabelecendo um paralelo com Provérbios e Eclesiastes no Antigo Testamento. Ele orienta os crentes a buscarem a sabedoria que vem do alto (Tg 3.17), capaz de moldar o caráter, tornando-os amáveis, equilibrados e aptos a enfrentar os desafios e conflitos da vida com graça e humildade.
ATIVIDADE PARA FIXAÇÃO
1. Quais são as seis figuras usadas por Tiago para ilustrar o poder da língua?
R.: Freio, leme, fogo, animal, fonte e figueira.
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