
1 João, a Epístola do Amor
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TEXTO BÍBLICO BÁSICO
1 João 1.1,7,8
1 - O que era desde o princípio, o que vimos com os nossos olhos, o que temos contemplado, e as nossas mãos tocaram da Palavra da vida.
7- Mas, se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com os
outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo pecado. 8- Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade em nós.
1 João 2.9-11,14,18-20
9- Aquele que diz que está na luz e aborrece a seu irmão até agora está em trevas.
10- Aquele que ama a seu irmão está na luz, e nele não há escândalo.
11- Mas aquele que aborrece a seu irmão está em trevas, e anda em trevas, e não sabe para onde deva ir; porque as trevas lhe cegaram os olhos.
14- Eu vos escrevi, pais, porque já conhecestes aquele que é desde o princípio. Eu vos escrevi, jovens, porque sois fortes, e a palavra de Deus está em vós, e já vencestes o maligno.
18- Filhinhos, é já a última hora; e, como ouvistes que vem o anticristo, também agora muitos se têm feito anticristos; por onde conhecemos que é já a última hora.
19- Saíram de nós, mas não eram de nós; porque, se fossem de nós, ficariam conosco; mas isto é para que se manifestasse que não são todos de nós.
20- E vós tendes a unção do Santo e sabeis tudo.
TEXTO ÁUREO
Mas, se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo pecado.
1 João 1.7
SUBSIDIOS PARA O ESTUDO DIÁRIO
2ª feira - 1 João 2.1; 1 Coríntios 10.13
Cristo intercede por nós; Deus nos socorre na tentação
3ª feira - Hebreus 2.9; 2 Coríntios 5.14,15
Jesus entregou-se por todos para conceder salvação
4ª feira - 1 João 2.8; Gálatas 5.14
O amor reflete o resplendor da verdadeira luz
5ª feira - Romanos 8.16; 1 João 3.14
O Espírito testifica nossa filiação e amor pelos irmãos
6ª feira - Daniel 7.25; 2 Tessalonicenses 5.2.3
Tempos difíceis virão antes do Dia do Senhor
Sábado - Hebreus 3.12-14
Exortai-vos cada dia, para permanecer firmes
OBJETIVOS
Ao término do estudo bíblico, o aluno deverá:
- compreender que a vida do salvo deve refletir a luz de Cristo, afastando-se do pecado;
- reconhecer a necessidade de manter-se separado dos valores corrompidos do mundo;
- evidenciar, por meio do amor, que é nascido de Deus; discernir e vigiar contra os falsos profetas dos últimos tempos.
ORIENTAÇÕES PEDAGÓGICAS
Prezado professor, esta lição enfatiza a distinção entre a vida na luz e a contaminação pelo pecado, além da necessidade de vigilância permanente.
Para envolver os alunos, inicie a aula com uma reflexão: Quais características diferenciam a conduta de um verdadeiro discípulo de Cristo? Ao fim do estudo, ressalte que a obediência à Palavra e o crescimento espiritual são essenciais para resistir ao engano e perseverar na fé.
Boa aula!
COMENTÁRIO
Palavra introdutória
O apóstolo João escreveu sua primeira epístola para refutar os falsos mestres que se infiltraram na Igreja, propagando dou- trinas distorcidas sobre Cristo. Esses indivíduos eram conheci- dos como gnósticos, grupo filosófico que emergiu no primeiro século, fundamentado no conceito de gnósis (conhecimento esotérico). Sua influência se estendia às igrejas de Éfeso, Colossos e outras comunidades cristãs na Ásia Menor. Assim como João, Paulo também combateu veementemente tais heresias em suas cartas (1 Tm 6.20,21; Cl 2.8-10,18-23; Tt 1.10-16). Irmão de Tiago e filho de Zebedeu, João foi um dos discípulos mais próximos de Jesus e o autor das epístolas joaninas. Em seus escritos, ele se dirige aos leitores como "filhinhos" (1 Jo 2.1,12,18,28; 3.7,18; 5.21), demonstrando sua preocupação pastoral.
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De acordo com a Tradição, João passou seus últimos anos em Éfeso, onde teria escrito suas três cartas. Pais da Igreja, como Irineu, Dionísio de Alexandria, Papias e Policarpo, corroboram essa informação. Estima-se que sua primeira epístola tenha sido concluída antes do ano 70 d.C.
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1. A TESTEMUNHA DA LUZ E DA VIDA
João inicia sua epístola reafirmando a realidade corpórea de Cristo, refutando de forma incisiva as doutrinas gnósticas que negavam a Encarnação (1 Jo 1.1,2; cf. 2 Jo 7) - assim como em seu Evangelho, o apóstolo enfatiza que Ele é o Verbo eterno de Deus, revelado em natureza humana (Jo 1.1,14; cf. 1 Jo 4.2,3).
1.1. A heresia gnóstica
O gnosticismo, em ascensão na Igreja primitiva, distorcia a fé cristã ao negar aspectos fundamentais da identidade de Cristo. Dentre outras práticas, seus adeptos:
- negavam Sua humanidade, alegando que Ele apenas aparentava possuir um corpo físico, sem ter uma natureza humana real;
- rejeitavam Sua divindade, argumentando que o Divino não poderia assumir uma natureza humana;
- promoviam a crença em seres mediadores, sustentando que entre Deus e os homens existia uma hierarquia de entidades espirituais, como os aeons ou demiurgos, que deveriam ser reverenciados (cf. Cl 2.18).
1.2. O combate direto às falsas doutrinas
Ao iniciar sua epístola, João confronta diretamente aqueles que negavam a humanidade de Cristo, afirmando categoricamente a realidade da Encarnação, testemunhada por ele e pelos demais apóstolos (1 Jo 1.1). Desde o princípio, distingue claramente o Pai e o Filho, reforçando que são pessoas distintas na unidade divina (1 Jo 1.3).
Além disso, João refuta a negação de Sua divindade, declarando que Ele é o verdadeiro Deus e a vida eterna (1 Jo 5.20). O apóstolo já havia tratado dessa questão em seu Evangelho ao registrar as palavras de Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim (Jo 14.6), rejeitando qualquer ideia de mediadores espirituais. Diante da desorientação gerada por esses falsos ensinos, o apóstolo reforça a alegria que advém da verdade, encerrando essa introdução com uma declaração encorajadora: Estas coisas vos escrevemos, para que o vosso gozo seja completo (1 Jo 1.4).
2. A REDENÇÃO EM CRISTO E A PURIFICAÇÃO DO PECADO
Em seguida, o escritor sagrado estabelece uma nítida distinção entre aqueles que andam na luz e os que permanecem no pecado (1 Jo 1.7). O ser humano, por natureza, tende à autojustificação, relutando em admitir sua condição pecaminosa. João, porém, adverte: Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade em nós (1 Jo 1.8).
Para muitos gnósticos, a verdadeira existência residia no espírito, considerado eterno, enquanto o corpo, por ser transitório, não possuía relevância moral. Dessa forma, dissociavam a espiritualidade da conduta física, alegando que o culto a Deus ocorria no espírito, enquanto o corpo poderia entregar-se ao pecado sem consequências. Essa perspectiva, identificada como antinomismo (gr. anti = "contrário" + nomos = "lei"), promovia uma vida sem regras, desconsiderando qual- quer responsabilidade ética pelos atos cometidos no corpo.
2.1. A intercessão de Cristo diante da universalidade do pecado
Negar a realidade do pecado não exime ninguém de sua condição diante de Deus. João alerta que tal postura constitui um autoengano que contradiz a verdade divina (1 Jo 1.9,10).
No contexto gnóstico, duas visões extremas se manifestavam. Alguns ascetas rejeitavam os prazeres materiais para evitar a suposta corrupção do espírito. Outros, adotando um viés antinomiano, desconsideravam a moralidade das ações físicas, pois viam o corpo como irrelevante para a salvação. Essa separação entre espiritualidade e comportamento levava à indulgência com o pecado.
Diante disso, o apóstolo reafirma: o ideal é evitar o pecado, mas, caso ocorra, há um recurso providenciado por Deus: (...) Se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o Justo (1 Jo 2.1b).
2.2. A expiação de Cristo e a amplitude de Sua obra
A intercessão de Cristo junto ao Pai fundamenta-se em Sua obra expiatória, que proporciona reconciliação aos pecadores (1 Jo 2.2). Seu sacrifício é suficiente para toda a humanidade, evidenciando tanto a justiça quanto o amor de Deus, ainda que nem todos se apropriem desse benefício.
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No contexto da teologia reformada, João Calvino formulou a doutrina da expiação limitada, segundo a qual Cristo morreu exclusivamente pelos eleitos, restringindo a eficácia de Seu sacrifício. Essa visão, contudo, contrasta com o ensino bíblico de que a obra redentora do Messias tem alcance universal, conforme atestam passagens como João 3.16, 1 Timóteo 2.5,6, Hebreus 2.9 e 2 Coríntios 5.14,15.
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3. OS REFLEXOS DO AMOR, O MAIOR DENTRE TODOS OS MANDAMENTOS
João é amplamente reconhecido como o apóstolo do amor, pois enfatiza essa virtude como a essência do cristianismo e o fundamento que coroa a fé (cf. 1 Co 13.13).
No Antigo Testamento, o povo de Deus vivia sob os mandamentos da Lei. Contudo, na nova aliança, os crentes não estão mais sujeitos ao antigo sistema legalista, o que não significa ausência de preceitos divinos.
João ressalta essa realidade ao afirmar: (...) Este mandamento antigo é a palavra que desde o princípio ouvistes (1 Jo 2.7). Embora o chame de antigo, também o designa como novo: Outra vez vos escrevo um mandamento novo (...) (1 Jo 2.8), pois, em Cristo, o amor atinge sua plenitude.
Para João, o verdadeiro mandamento consiste em viver em amor, rejeitar o pecado e manter-se separado dos valores corrompidos do mundo.
3.1. Quem permanece na luz manifesta amor
João apresenta três evidências de um novo nascimento. A primeira é o testemunho interno do Espírito (1 Jo 3.24; 4.13; cf. Rm 8.16); a segunda, o amor fraternal (1 Jo 3.14); e a ter- ceira, a prática da justiça (1 Jo 2.29).
Para o escritor sagrado, não há meio-termo: ou se está na luz, evidenciando essas marcas espirituais, ou se permanece em trevas (1 Jo 2.9). Os falsos crentes, influenciados pelo gnosticismo, promoviam debates filosóficos vazios e, em sua postura antinomiana, viviam no pecado, gerando escândalo na Igreja. A rejeição à verdade os tornava espiritualmente cegos (1 Jo 2.11). Em contraste, os verdadeiros discípulos perseveravam na simplicidade do evangelho. João também encoraja os jovens, mais suscetíveis a influências externas e ideologias sedutoras. Ele os lembra de que já venceram o maligno (1 Jo 2.13,14) e, ao usar o verbo conhecestes (gr. egnōkate), destaca que, ao contrário dos gnósticos, os crentes detêm a verdadeira compreensão da realidade: têm comunhão com o Pai celestial.
3.2. Quem permanece na luz rejeita o mundo
As Escrituras revelam que o mundo opera sob um sistema corrompido, regido por Satanás, cuja influência alcança todos os aspectos da sociedade (Ef 2.2). O domínio que antes pertencia ao homem foi entregue ao diabo (Lc 4.6), identificado como o príncipe deste mundo (Jo 16.11), sob cujo poder a humanidade caída permanece (1 Jo 5.19).
Nesse contexto, a postura do verdadeiro crente é de resistência. Jesus alertou que os que pertencem a Deus enfrenta- riam rejeição (Jo 15.18,19), mas garantiu que essa oposição pode ser superada, pois Ele venceu o mundo (Jo 16.33). No entanto, essa vitória não decorre do esforço humano, mas da fé (1 Jo 5.4). Embora estejam inseridos na sociedade, os salvos não se moldam a seus padrões. Cristo não pediu ao Pai que os retirasse do mundo, mas que os guardasse do mal (Jo 17.9,15). Dessa forma, mesmo presentes nele (no mundo), vivem de acordo com princípios celestiais, refletindo a luz que dissipa as trevas.
4. A ATUAÇÃO DO ANTICRISTO E SEUS EFEITOS NA IGREJA
Desde os primórdios da era cristã, a Igreja vive sob a expectativa do retorno de Cristo, um princípio que mantém os crentes em constante vigilância para o arrebatamento. João advertiu seus leitores sobre a iminência dos eventos escatológicos ao afirmar: Filhinhos, é já a última hora (...) (1 Jo 2.18a).
4.1. Os falsos mestres e a distorção da verdade
O apóstolo João adverte que muitos se têm feito anticristos (1 Jo 2.18c), referindo-se àqueles que se afastaram da verdade do evangelho e passaram a difundir especulações filosóficas contrárias à sã doutrina. Esses falsos mestres distorcem as Escrituras, introduzindo novas interpretações que se afastam dos fundamentos da fé cristã.
4.2. Os que se afastam da fé e suas implicações
Desde os primórdios da Igreja, houve aqueles que se afastaram da Promessa por diversos motivos. João, ao tratar desse tema, refere-se não apenas a indivíduos que deixaram a comunidade cristã, mas àqueles que, contaminados por um espírito contrário ao de Cristo, disseminavam heresias (1 Jo 2.19; cf. Rm 8.9). No contexto da epístola, a menção aos que saíram de nós, mas não eram de nós se aplica aos gnósticos que, embora tenham convivido entre os crentes, jamais abraçaram integralmente a fé autêntica.
4.3. O engano dos falsos ensinadores e suas consequências
João alerta sobre os falsos mestres que deturpam o ensino genuíno e ameaçam a segurança do salvo (1 Jo 2.21-26). Influenciados pelo gnosticismo, eles negavam a identidade messiânica de Jesus, comprometendo a doutrina apostólica. Embora Ele fosse o Ungido esperado por Israel, tais mestres rejeitavam Sua missão redentora, desviando muitos do caminho da verdade.
4.4. A unção divina como proteção contra o erro
Os gnósticos alegavam que apenas uma elite intelectual poderia alcançar o verdadeiro conhecimento de Deus, restringindo a compreensão espiritual àqueles instruídos por eles. No entanto, João refuta essa pretensão ao assegurar que todos os crentes possuem a unção do Santo, que lhes concede discernimento espiritual (1 Jo 2.20). Esse dom, recebido diretamente de Deus, dispensa a necessidade de mestres autoproclamados, pois conduz à verdade e preserva os fiéis no conhecimento pleno de Seu Filho (1 Jo 2.27).
CONCLUSÃO
Nesta epístola, João exorta os crentes a permanecerem firmes em Cristo, a verdadeira luz, manifestando amor e justiça como evidência da salvação. Além disso, alerta contra os falsos ensinos gnósticos, que corrompiam a sã doutrina e desviavam muitos do evangelho.
Diante desse perigo, era - e continua sendo - essencial perseverar na verdade, rejeitar todo engano e trilhar o caminho da justiça e do amor, refletindo a luz do Salvador.
ATIVIDADE PARA FIXAÇÃO
1. O que significa ser antinomista?
R.: Significa rejeitar leis ou normas morais, vivendo sem
submissão a princípios estabelecidos.
Fonte: Revista Central Gospel
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