INTERPRETAÇÃO BÍBLICA - O Fundo da Agulha

Considere esse versículo:

"É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que entrar um rico no reino de Deus." LC 18.25

ANÁLISE

  Em primeira mão o leitor vai interpretar esse versículo imaginando um camelo literalmente e uma agulha de costura, e dessa forma consideraríamos que é impossível aos ricos entrarem no reino de Deus, mas vejamos algumas suposições para interpretação dessa passagem: 

1ª - A palavra camelo deve ser considerada literalmente, mas o fundo da agulha era uma pequena porta ao lado da porta principal de Jerusalém, pela qual um camelo passaria, após tirar-lhe a carga e, mesmo assim ajoelhado e aos empurrões.

  Essa afirmação ressalta uma certa possibilidade do rico entrar no Reino dos Céus, ela se tornou muito popular e aceita por muitos teólogos, principalmente por satisfazer o aspecto tipológico do contexto. Pois o camelo só passaria na pequena porta após desfazer-se da carga e de joelhos, assim também o rico deveria se desfazer do apego as riquezas e se humilhar tal qual o camelo de joelhos.

  Porém a presente suposição tem perdido força pois ela originou-se nos séculos depois dos dias de Cristo, pois não há qualquer registro da tal entrada lateral do muro de Jerusalem na época de Jesus. Não há portanto nenhum fundamento para tal explicação, embora ela possa parecer plausível.

2ª - Houve uma substituição da palavra grega – kámilos – corda, para kámelos – o animal. O fundo da agulha considerar-se-ia literalmente.

  

  Essa é uma suposição de que Jesus tivesse se referido a corda e não ao animal, dessa forma haveria uma remota possibilidade do rico adentrar ao Reino de Deus, pois uma corda bem desfiada passaria passaria pelo fundo da agulha, porém existem poucos manuscritos com essa troca e nos manuscritos mais antigos   não há referência a esse suposto erro. Para Henry Alford em An Exegetical and Critical Commentary, vol. l, pág. 197 a substituição das palavras gregas kamilos para kámelos parece ter sido inventada para fugir da dificuldade de interpretação do texto.

3ª - Jesus teria usado uma hipérbole, figura de linguagem que se caracteriza pelo exagero, com o objetivo de despertar a atenção dos ouvintes, para melhor fixar o fato na memória, assim como ele procede em Mt 23.24 "Condutores cegos! que coais um mosquito e engolis um camelo." 

Essa suposição é a mais coerente e defensável, pois os comentaristas nos informam que Jesus se valeu de uma ilustração, que já existia em forma de provérbio no seu tempo, como prova o Talmud. Em Babilônia, nesta mesma época, havia uma frase idêntica, apenas com a seguinte variante: "É mais fácil um elefante passar pelo fundo de uma agulha."

  

CONCLUSÃO

  A 3ª suposição é a única a ser defendida, pois o uso de dessa ilustração não apresenta total impossibilidade do rico ser salvo, como sabemos por consenso geral da Bíblia, que ser rico não é pecado e sim o amor ao dinheiro 1 Tm 6.10, o apego as coisas materiais e a idolatria. E também muitos ricos foram exemplos nos tempos do Antigo Testamento, como Jó e Abraão. Logo não podemos admitir a impossibilidade de um rico ser salvo e sim uma grande dificuldade.

Marcos André - Professor

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