TEXTO BÍBLICO BÁSICO
Gênesis 3.8-13
8- E ouviram a voz do Senhor Deus, que passeava no jardim pela viração do dia; e escondeu-se Adão e sua mulher da presença do Senhor Deus, entre as árvores do jardim.
9- E chamou o Senhor Deus a Adão e disse-lhe: Onde estás?
10- E ele disse: Ouvi a tua voz soar no jardim, e temi, porque estava nu, e escondi-me.
11- E Deus disse: Quem te mostrou que estavas nu? Comeste tu da árvore de que te ordenei que não comesses?
12- Então, disse Adão: A mulher que me deste por companheira, ela me deu da árvore, e comi.
13- E disse o Senhor Deus à mulher: Por que fizeste isso? E disse a mulher: A serpente me enganou, e eu comi.Romanos 5.12, 15, 17, 19
12- Pelo que, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, por isso que todos pecaram.
15- [...] Porque, se, pela ofensa de um, morreram muitos, muito mais a graça de Deus e o dom pela graça, que é de um só homem, Jesus Cristo, abundou sobre muitos.
17- Porque, se, pela ofensa de um só, a morte reinou por esse, muito mais os que recebem a abundância da graça e do dom da justiça reinarão em vida por um só, Jesus Cristo.
19- Porque, como, pela desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores, assim, pela obediência de um, muitos serão feitos justos.
TEXTO ÁUREO
Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de Justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação de vida. Romanos 5.18
SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO DIÁRIO
2ª feira - Salmo 51.5
Desde o ventre, carecemos da Graça
3ª feira - Hebreus 2.16-18
Cristo assumiu a nossa dor para nos salvar
4ª feira - Isaías 61.10-11
A justiça floresce como um jardim
5ª feira - 1 Coríntios 1.18; 1 Pedro 2.24
Pelo Madeiro, vida e perdão
6ª feira - Mateus 18.11; Lucas 19.10
Jesus veio buscar e salvar o perdido
Sábado - 1 Pedro 1.18-21
Escolhidos, resgatados, amados por Cristo
OBJETIVOS
Ao término do estudo bíblico, o aluno deverá ser capaz de:
- compreender a Queda como um dos temas mais importantes da doutrina bíblica;
- reconhecer como a desobediência é tratada nas Escrituras em suas dimensões teológicas e existenciais;
- refletir sobre o impacto da Queda na vida humana e na história da salvação.
ORIENTAÇÕES PEDAGÓGICAS
Caro professor, esta lição marca o ponto de ruptura entre o Homem e seu Criador. A transgressão no Éden não é apenas um evento do passado, mas um espelho da alma, uma realidade que atravessa os séculos e se manifesta em cada coração e em toda cultura. Portanto, evite tratá-la como um erro moral isolado. Mostre que ela expressa uma quebra de confiança, um desejo de autonomia e rejeição da Palavra de Deus, com consequências trágicas para toda a humanidade. Ressalte que, ao compreendermos a Queda, entendemos também a Cruz — sem ela, não haveria redenção.
Estimule os alunos à introspecção espiritual e ao reconhecimento da Graça que se revela desde o início — mesmo quando o Homem se esconde, o Pai celestial pergunta: Onde estás?
Excelente aula!
COMENTÁRIO
Palavra introdutória O terceiro capítulo de Gênesis não descreve apenas o momento em que tudo mudou, em razão do primeiro pecado; antes, revela o instante em que a confiança foi rompida, o amor foi posto à prova, e a humanidade escolheu rebelar-se e caminhar por conta própria, longe do Criador. Nao se trata, portanto, de um fato isolado, m s de um evento marcado no tempo com implicações universais pra muito além do espaço geográfico e histórico do Éden.
Quem não compreende a Queda, tampouco compreenderá a Cruz (Rm 5.12, 18; 1 Co 15.21-22). Mais do que um exemplo de entrega radical, Jesus é aquele que desce até onde o ser humano caiu, para redimi-lo por meio do Seu sangue e restaurar o que foi rompido no Éden (Ef 1.17; Fp 2.6-8; Hb 2.17).
1. UM EVENTO REAL COM IMPLICAÇÕES UNIVERSAIS
A narrativa da Queda não é uma ilustração, um protótipo, mas uma revelação sobre nossa origem, condição e necessidade de redenção. Adão e Eva não são figuras alegóricas; são o retrato do humano que habita em nós — aquele que, mesmo cercado pela bondade do Pai, ainda pode desejar o fruto da desobediência, altivez e autonomia.
O que se passou no Éden não é uma antiga fábula = como defendem alguns —, mas um espelho que nos mostra o drama da perda da liberdade genuína e a profundida de do caos causado pela ruptura na comunhão com Deus.
1.1. A literalidade da narrativa da Queda
A Bíblia narra a Queda com a seriedade de um evento real, parte essencial da história da salvação. O texto é direto, situado em um enquadramento narrativo que descreve genealogias (Gn 5.1-5), lugares (Gn 2.10-14), diálogos (Gn 3.9-13) e consequências palpáveis (Gn 3.16-19, 23-24). Em contraste com os mitos, que usam personagens sem nome ou com significados figurativos, Gênesis nomeia Adão e Eva, estabelece marcos geográficos e aponta uma linha de causa e efeito que percorre, toda a Escritura.
Não se trata, portanto, de uma ilustração da condição humana: trata-se da própria origem dessa condição (Rm 2.12; Sl 51.5), a partir da qual o mundo mudou (Gn 3.1719; Rm 8.20-22). E tudo o que lemos nos profetas (Is 59,2: Os 6.7), nos salmos (Sl 14.2-3), nos evangelhos (Jo 3.16-17) e nas cartas apostólicas (Rm 3.23-24; Ef 2.1-5) está conectado a esse ponto de ruptura. A Cruz é a resposta ao que ali se quebrou (1 Co 1.18; 1 Pe 2.24. Cl 2.13-14).
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Enquanto os mitos antigos descrevem batalhas entre deuses e criaturas lendárias, Gênesis apresenta uma narrativa sóbria e relacional: Deus, o ser humano e a escolha. Uma história sobre liberdade, confiança e a ruptura que alterou o rumo da humanidade
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1.2. Adão e Eva: figuras reais no texto sagrado
Jesus reafirmou a criação do homem e da mulher como fato (Mt 19.4), e o apóstolo Paulo desenvolveu uma teologia consistente com base em sua existência objetiva (Rm 5.12-19). Adão e Eva não são protagonistas de um conto simbólico, mas de uma narrativa viva e reveladora. Seus nomes não são metáforas — são âncoras da nossa fé, porque neles vemos tanto o início da rebelião quanto a promessa da restauração.
Em tempos recentes, algumas propostas hermenêuticas, influenciadas por abordagens liberais, filosóficas ou acadêmicas, têm buscado interpretar o relato do Éden de maneira alegórica. No entanto, negar a literalidade da Queda é comprometer a base da redenção: se não houve rompimento concreto, não há necessidade de restauração.
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ONDE ESTÁS? — Essa foi a primeira pergunta feita por Deus ao ser humano caído. Não era uma questão de localização geográfica, mas de identificação existencial: onde você está quando silencia a escuta, rejeita a comunhão, deseja ser o centro e se põe em fuga?
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2. O DRAMA DO ÉDEN E O INÍCIO DA ESPERANÇA
Ao transgredir a Lei do Éden, o ser humano não apenas quebrou uma regra: rompeu uma relação. Mas, mesmo nesse momento, o Senhor não se calou. Sua voz ainda percorre O Jardim, não com gritos de fúria, mas com o sussurro da pergunta: Onde estás? (Gn 3.9).
2.1, À ordem divina como expressão de autoridade e amor
A ordem dada ao primeiro casal não era um teste arbitrário, nem um gesto autoritário. Era, antes, a afirmação de um amor que educa, forma e convida à adoração pela obediência voluntária e à fé. A autoridade do Senhor se manifesta não para subjugar, mas para orientar — como quem delimita um caminho para preservar a vida. A árvore no meio do Jardim não era um obstáculo, mas o instrumento por meio do qual o livre-arbítrio humano seria revelado e colocado à prova. Diante dela, uma escolha — obedecer ou rebelar-se?
Estabelecer limites é também uma forma de amar. Ao dizer “não” ao fruto, Deus estava dizendo “sim” à comunhão, ao acolhimento, ao cuidado e à confiança mútua. Naquele contexto, a transgressão do limite levaria ao rompimento e ao afastamento; a obediência, por sua vez, manteria viva a sintonia entre a criatura, o Criador e a terra de origem — plena, bela e perfeita.
2.2. À desobediência como revolta consciente
O castigo foi apresentado ao homem e à sua mulher antecipadamente (Gn 2.16-17); ao anunciá-lo, Deus advertiu que aquela era uma questão de vida ou morte (Rm 6.23).
Adão e Eva sabiam. Foram advertidos. Mas escolheram. A rebelião não foi um tropeço ingênuo, mas uma rendição voluntária ao orgulho, ao desejo de autonomia.
A narrativa de Gênesis não fala apenas de dois nomes do princípio — fala de todos os seres humanos, em todos os tempos. Ainda hoje, repetimos o gesto: escolhemos o fruto da autossuficiência, ignoramos a voz que adverte e seguimos em direção ao que parece bom aos olhos. A Queda não ficou nas primeiras páginas da Escritura: ela continua sempre que confiamos mais em nossos próprios desejos e decidimos fazer a nossa vontade.
2.3. A intervenção divina: perguntas, juízo e vestes
Deus pergunta. Confronta. Julga. Mas também costura roupas (Gn 3.21). Mesmo diante da ruptura, a misericórdia se manifesta. Antes que o ser humano buscasse cobertura, Ele já lhe oferecia abrigo. O Criador não abandona Suas criaturas: Ele entra no Jardim ferido e chama pelo nome aquele que tentou se esconder.
2.3.1. A Cruz revelada nos bastidores da Queda
O evangelho tem sua semente plantada no Éden — é ali que começa a se revelar a razão pela qual Cristo precisaria encarnar, sofrer e vencer a morte. Em Gênesis 3.15, conhecido como protoevangelho, está a primeira promessa de redenção: a vitória do descendente da mulher sobre o mal. A Cruz, portanto, não foi um improviso, mas parte do plano eterno (cf. Rm 5.15 9, Pe 820).
A Queda é o pano de fundo da encarnação: o Verbo se fez carne (Jo 1.14) porque o se uma o se fez caído e distante. O Filho de Deus desceu até a poeira onde Adão jazia escondido — para buscar, vestir e restaurar (Mt 18.11; Lc 19.10). Sem esse corte inicial, a Cruz seria incompreensível. O grito de Jesus — Está consumado! (Jo 19.30) — ecoa como resposta ao silêncio de Adão no jardim.
3. QUESTÕES TEOLÓGICAS SUSCITADAS PELA QUEDA
A Queda não é apenas um evento — é também um mistério. E, diante do mistério, surgem perguntas que desafiam a imaginação e a capacidade de apresentar explicações convincentes.
A seguir, são apresentados alguns pontos para promover uma meditação reverente e sincera sobre o tema à luz da Cruz de Cristo.
3.1. O mal é uma possibilidade concreta
A Queda levanta questões que atravessam séculos de reflexão teológica. Sem a pretensão de esgotá-las, abordaremos aqui algumas das principais:
SE O HOMEM ERA PERFEITO, POR QUE NÃO PERMANECEU ASSIM?
- O HOMEM FOI CRIADO PERFEITO, MAS NÃO CONFORME A ESSÊNCIA DE DEUS — POIS, NESSE SENTIDO, SÓ ELE É ABSOLUTAMENTE PERFEITO. NO SER CRIADO HAVIA ESPAÇO PARA A IMPERFEIÇÃO, E ISSO FOI O BASTANTE PARA QUE DESSE OUVIDOS À SERPENTE E COMESSE DO FRUTO QUE O SENHOR HAVIA PROIBIDO.
DEUS INDUZIU ADÃO À QUEDA?
- NÃO. DEUS NÃO PODE INDUZIR AO MAL POIS ISSO CONTRARIA SUA NATUREZA ABSOLUTAMENTE SANTA. A MOTIVAÇÃO PARA A QUEDA NASCEU NA INTERIORIDADE DO HOMEM (TG 1.13-14).
DEUS SUSPENDEU SUA GRAÇA PARA QUE ADÃO CAÍSSE?
- NÃO. A GRAÇA SEMPRE ESTEVE PRESENTE NO JARDIM. FOI O HOMEM QUEM VIROU O ROSTO E DECIDIU DESOBEDECER. O SENHOR NUNCA SE AUSENTOU — FOI ADÃO QUEM SE ESCONDEU (GN 3.8).
O LIVRE-ARBÍTRIO LEVARIA INEVITAVELMENTE À QUEDA?
- NÃO INEVITAVELMENTE, MAS POTENCIALMENTE. A LIBERDADE ERA REAL E AMPLA. HAVIA, SIM, À POSSIBILIDADE DE TAMBÉM PERMANECER EM FIDELIDADE. MAS, DIANTE DA VOZ DA SERPENTE, O CORAÇÃO HUMANO SE INCLINOU À DÚVIDA E AO DESEJO. O RISCO RA NECESSÁRIO, POIS A OBEDIÊNCIA SÓ FAZ SENTIDO SE FOR VOLUNTÁRIA E AUTÊNTICA.
POR QUE A DESOBEDIÊNCIA A UMA ORDEM TÃO SIMPLES RESULTOU EM CONSEQUÊNCIAS TÃO GRAVES?
- À ORDEM NÃO ERA TÃO SIMPLES, POIS ENVOLVIA A AUTORIDADE DIVINA SOBRE TODA A CRIAÇÃO — INCLUSIVE SOBRE O PRÓPRIO CASAL. COM ISSO, DEUS ESTAVA ENSINANDO QUE PODIA DAR ORDENS AOS SERES HUMANOS E ESPERAR DELES OBEDIÊNCIA.
3.2. Como outras visões de mundo explicam a realidade do mal
Ao longo da História, diversos sistemas de pensamento ofereceram respostas diferentes para a origem e o significado do mal (cf. Lição 7; Tópico 3). Cada uma dessas visões tenta responder à pergunta que paira sobre as eras: o que deu errado com o mundo? A Bíblia, porém, oferece uma resposta única: o mal não é eterno, nem uma ilusão, nem um destino; é o resultado de uma decisão pessoal baseada na falha da liberdade de escolha. E o caminho de volta não está no saber secreto nem no equilíbrio cósmico, mas na reconciliação com o Criador, por intermédio de Cristo. O mal está entre nós, mas, só a Cruz tem a palavra final.
3.3. Onde depositar a confiança
Diante do mistério do mal, a Escritura oferece o socorro do Altíssimo, que jamais se mantém distante da dor humana: Ele entrou nela (Jo 1.14) e assumiu o madeiro como resposta ao que se rompeu no Éden.
É preciso crer n'Aquele que tudo venceu. À missão do Filho nos revela que o mal teve um começo, mas não terá a última palavra e um dia terá fim. Onde há cisão, Deus planta reconciliação. Onde há solidão, Ele oferece companhia (Sl 23.4). A fé não elimina o mistério, mas o ilumina com esperança.
CONCLUSÃO
A Queda nos apresenta o abismo que se abre quando o ser humano rompe com a Palavra e busca viver por si mesmo (Gn 2.16-17; 3.6). Mas, desde o Éden, Deus respondeu à nudez com vestes (Gn 3.21), à culpa com pergunta (Gn 3.9), e à ruptura com promessa (Gn 3.15).
A cobertura dada ao primeiro casal não foi feita de folhas, mas de algo que custou uma vida — um ato que já apontava para o derramamento de sangue. Desde o início, a culpa não foi ignorada, mas coberta. Um animal morreu no Éden. E na Cruz, o Cordeiro imaculado entregou-se por toda a humanidade.
O sangue vertido no alvorecer da História antecipava o sangue derramado no Calvário — onde o amor venceu o mal, e a vergonha foi coberta por justiça. E, desde então, a Graça continua costurando vestes para quem ouve a voz que chama no Jardim (Is 61.10).
ATIVIDADE PARA FIXAÇÃO
1. Qual foi a primeira expressão de misericórdia divina após a Queda?
R.: Deus providenciou vestes para cobrir a nudez do homem e da mulher (Gn 3.21).
2. Qual é o nome dado à promessa de redenção feita ainda no Éden, e onde ela aparece?
R.: Protoevangelho; aparece em Gênesis 3.15.
Fonte: Revista Central Gospel
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